Serenara é a sua companhia semanal para um cuidado emocional possível. Somos um portal de conteúdos e histórias sobre saúde emocional feminina.
Ainda consigo sentir a emoção de ver nascer em mim uma ideia nova.
Tenho lembranças recentes de colocar no mundo pequenos fragmentos de mim: um sentimento, uma crença, uma palavra.
Mas o mundo se tornou cinzento. Antes, a vida era mais lenta, mais silenciosa, mais colorida.
Talvez seja saudosismo, ou apenas o receio de que as próximas gerações nunca experimentem o sossego que vem junto com o tédio e o ócio. É que num piscar de olhos, o mundo inteiro se tornou artificial demais.
No mundo corporativo, os corredores são tomados por conversas sobre AI. Na minha vida pessoal, o papel e a caneta, que antes captavam meus sonhos e angústias, foram substituídos pelo ChatGPT.
E eu nem sei exatamente o que significa "ChatGPT".
O auge foi quando perguntei no chat quanto é 30% de 100. Demorou mais tempo para me dar a resposta do que para eu chegar à conclusão sozinha.
E a resposta correta, adivinha, não era apenas um número. A minha grande conclusão, na verdade, foi que estou ficando entorpecida e sem senso crítico.
Há semanas eu tenho me empenhado para construir os melhores agentes, os melhores prompts, os melhores processos. O resultado geralmente é bom, não nego.
Mas quando a demanda exige sutileza, delicadeza e sensibilidade, a entrega fica muito longe do esperado. É que máquina nenhuma consegue reproduzir o processo interno que acompanha o processo criativo.
Um texto no ChatGPT nunca vem acompanhado da vista da janela enquanto penso sobre o assunto, nem das conversas longas com amigos elaborando o tema, ou das lágrimas ou dos sorrisos que surgem quando me emociono na escrita. E, muito menos, gera a sensação de alívio após a catarse de colocar tudo no papel.
Uma criação em IA pode até ser bem construída, correta, assertiva. Mas, cá entre nós, é fria, sem sabor e, sobretudo, sem história.
O meu medo não é que a inteligência artificial domine a humanidade. É que a humanidade se torne artificial.
Meu medo real é perder a conexão com a minha intuição, a ideia brilhante que surge no banho, as emoções que aparecem numa conversa profunda. É que, na corrida por sermos cada vez mais inteligentes artificialmente, percamos as outras formas de inteligência, sobretudo a emocional.
É como se estivéssemos criando mentes com inteligências anabolizadas: poderosas por fora, mas frágeis e desnutridas por dentro.
O que me assusta mesmo não é apenas sermos substituídos por robôs, é que nos tornemos cada vez mais robôs.
Por isso, espero que nem eu e nem você percamos a capacidade de ser o que somos: humanos.